CIDADE MODERNA X CIDADE CONTEMPORÂNEA

sexta-feira, 28 de novembro de 2008


O texto Primeira Lição de Urbanismo de Bernardo Sechi coloca em questão o paradoxo cidade moderna e cidade contemporânea buscando em algumas comparações responder a demanda de cada uma. Para tanto, ele faz uma analise do período entre a primeira guerra mundial e o início dos anos noventa , período denominados por Eric Hobsbawm de “século breve”.

Nesse “breve período” ocorreram as maiores experiências da cidade e do urbanismo ocidental: a experiência do Movimento Moderno, da construção da cidade soviética, da cidade do New Deal e das cidades das ditaduras européias, a experiência das duas reconstruções pós-bélicas, da formação, em algumas regiões do mundo, de imensas megalópolis, e, na última parte desse período, finalmente termina a transição da cidade moderna à cidade contemporânea, cujos delineamentos mostram-se ainda incerto e indeterminados.

É possível compreender a partir dessas diferentes experiências que durantes um século o mundo ocidental nutriu uma série de incertezas diante do projeto moderno.

No entanto hoje a modernidade nos traz um sentimento de nostalgia, um lugar seguro; o mundo contemporâneo, apesar de mais livre, se mostra confuso, dominado pelo caos, desprovido de forma, incompreensível e imprevisível, gerando um novo e difuso mal estar individual e coletivo.

Diante desses novos conceitos, Bernardo Sechi coloca a ruptura entre cidade moderna e cidade contemporânea como um questão difícil a ser tratada, no sentido de que é difícil diferenciar e dizer o que o interliga o antes e o depois. Mas conclui logo em seguida que o urbanismo contemporâneo é diferente do passado e essas diferenças são parte do resultado de uma consciente mudança das praticas empregadas.

A cidade moderna propõe temas e problemas que são reencontradas em todo lugar e que portanto, podem torna-se objeto de reflexões gerais. A cidade contemporânea não tem características idênticas em toda parte do mundo ocidental.

Mesmo assim muitas vezes a produção artística hoje em dia tentam responder as efemeridades buscando um elo entre elas. Nas descrições dos urbanistas, sociólogos, antropólogos, etnólogos e economistas “a cidade contemporânea parece para muitos como um confuso amálgama de fragmentos heterogêneos, no qual não é possível reconhecer nenhuma regra de ordem, nenhum princípio de racionalidade que a faça inteligível”. Ao mesmo tempo Henry Miller ira dizer que confusão é uma palavra inventada para indicar um ordem que não se compreende. E ai esta marcado o grande dilema da cultura ocidental : como se dá a relação entre o uno e múltiplo. O quanto essa novas efemeridades podem ser padronizadas e respondidas por reflexões gerais, como se fazia no projeto moderno?

A questão é que hoje a cidade se torna cada vez mais o lugar da diferença, acervo de minorias culturais, religiosas, lingüísticas, étnicas, de níveis de renda, de estilo de vida, de arquiteturas e saberes que tendem a se isolar , mediante complexos processos de exclusão-inclusão.

A cidade contemporânea muitas vezes interpretadas como dispersão caótica de coisas e pessoas, de prática e de economias, a cidade contemporânea nas diversas escalas do espaço físico, social, econômico, institucional, político e cultural, caracteriza-se por um mesmo grau de fragmentação, produto de uma racionalidade múltipla e legitimas, mas muitas vezes simplesmente encostadas uma na outra, atravessada por limites não só invisíveis , como difíceis de superar, segundo o autor. Portanto os diversos elementos marcam uma cidade despedaçadas que, ás diversas escalas encarrega sua própria organização.

Assim Bernardo Sechi caracteriza a cidade contemporânea como um lugar privilegiado da mescla de pessoas e diversificação de atividade e da simultaneidade. E que “paradoxalmente a cidade contemporânea é o lugar da não contemporaneidade, que nega o tempo linear, a sucessão ordenada de coisas, de acontecimentos e comportamentos dispostos ao longo da linha do progresso como foi imaginado pela cultura moderna. Na cidade contemporânea apresenta-se uma forma do tempo diversa daquele da cidade moderna”.

Lugar da mescla e diversificação, a cidade contemporânea é por natureza
instável. E com o fim da modernidade é ao mesmo tempo obsolescência e desativação, transformação e reutilização:

“(...) é o lugar de contínua e tendencial destruição de valores posicionais, de progressiva uniformização e democratização do espaço urbano; de destruição de consolidados sistemas de valores simbólicos e monetários, de contínua formação de novos itinerários privilegiados, de novos lugares de comércio, de lazer, da comunicação e de interação social, de uma nova geografia de centralidades, de novos sistemas de intolerância, de compatibilidade e incompatibilidade”.
A cidade é um sistema caótico, porém não é com isso que devemos nos surpreender, “mas com a nossa incapacidade ou impossibilidade de limitar qualquer tipo de desvio dentro de limites suficientemente restritos, durante períodos suficientemente longos. Uma situação diversa daquela imaginada pela modernidade”.

Compreender a razão dessas mudanças e perceber seu alcance não é simples. Para Bernardo Sechi a cidade contemporânea passa por um momento de procura da distância adequada, para poder se compreender.

No fim do seu texto o autor cita quatro exemplos para tentar esclarecer essa idéia. Faz isso comparando as relações de semelhanças e diferenças do movimento pós moderno com o movimento moderno. Interessante observar essas relações, e compreender como que estão se dando essas mudanças, e que mudanças são essas. A relação do homem com arquitetura não é mais uma postura dominante, mesmo que por vezes ainda permaneca arrogante. Um bom projeto vai sempre consegui olhar e compreender as diversas escalas.

1 comentários:

Anônimo disse...

D+ seu material!! Obrigado.