A excitante e calma Paris França, de Gertrude Stein

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008


“Paris França é excitante e calma. (...) Então há dois lados num francês, lógica e moda e é por isso que o povo francês é excitante e calmo”. Em torno dessas idéias e por meio de um texto muito livre a escritora norte-americana Gertrude Stein escreve Paris França, seu livro autobiográfico, porém mais uma biografia de Paris através de seu olhar do que de si própria. Stein discorre livremente sobre a moda, a culinária, a arte, a guerra, os animais, o povo francês, sua civilidade e suas relações anti-intimistas e monta assim uma visão muito particular de tudo o que considera importante nessa região na qual vive.


Nascida nos EUA e criada entre o país e a França, Stein adota sua capital como, segundo ela, a outra cidade que todo o artista deve ter além de sua terra natal. O livro expõe a França de Gertrude, uma visão de Paris partindo de suas experiências próprias “Afinal, todos, ou seja, todos os que escrevem estão interessados em viver dentro de si mesmos para contar o que existe dentro de si mesmos”, escreve.


Escrito em 1939, ano do início da 2ª guerra mundial, o livro enxerga um país parte da crise européia, que já havia passado por uma grande guerra e vivia o medo da iminência de outra. Em contraposição, havia a elegância, a efervescência do circuito das artes e a explosão da moda francesa, sinais que, segundo a autora, provam a existência de vida dentro de uma cultura.

“Os loucos anos 20”, a geração desencantada com a guerra, como a dos anos 60, uma geração que passa por uma contestação de valores estabelecidos é comparada pela autora com a juventude do século e com a rebeldia vivida por todo francês antes de se tornar um adulto civilizado. A França da influência dos Estados Unidos e do rádio, com os novos movimentos contestadores na arte e na literatura aparecem nas memórias de Stein como um momento juvenil do novo século que iniciava.

Depois dos anos 20, há a total decadência do liberalismo e o domínio dos regimes fascista e nazista como política emergente da época, além da Guerra Civil espanhola que leva muitos espanhóis para a França. Essa aparece como uma ilha, cercada pelo fascismo da Alemanha, Itália e Espanha. Na democracia francesa, junto à política da Inglaterra remanesce frente às pressões de direita, nessa ilha democrática européia cercada por tanta tensão, nasce o livro de Gertrude Stein.

Porém, em contraposição ao contexto histórico sombrio da época, o modo que Gertrude monta sua obra, através do fluxo de consciência, traz um texto livre, que flui além das regras gramaticais e cria uma insinuação quase infantil, algo tão solto quanto uma história contada por uma criança. Dessa forma adorável a autora compõe seu panorama do início do século XX francês.

Paris França, de Gertrude Stein, mistura características do ensaio, da autobiografia e recortes de ficção, compondo um livro no qual os gêneros se misturam e através do par de opostos, “excitante e calma”, retrata maravilhosamente a cidade das luzes do início século XX.

1 comentários:

Anônimo disse...

adorei... depois a gente conversa. lolxxx